Veganismo – O fim da inocência

Algumas peculiaridades são inerentes a todos os humanos. Não escolhemos nosso nome, cor da pele, etnia; tampouco a família ou o país onde nascemos. Nesse pacote de ‘heranças’, entram também a língua, a cultura, os costumes e valores do meio onde vivemos. Modos e maneiras que vão se sedimentando ao longo de nossa existência. 

Muita gente acredita que é ‘dona’ de seus próprios pensamentos, que age/reage à revelia do que está à sua volta. Ledo engano! Pessoas dadas à reflexão se dão conta de quão influenciadas são em relação a grandes e pequenas questões, inclusive – e principalmente – na forma de se alimentar. 

“Em 2011, Harvard não consegue mais esconder de vocês que a causa alimentar número um de câncer de mama – hormônio-dependente, ovário – hormônio-dependente, e próstata – hormônio feminino dependente é o QUEIJO”, brada a médica Kátia Haranaka, em entrevista à jornalista Leda Nagle. A médica refere-se à investigação científica realizada na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais conceituadas do mundo, que retirou da pirâmide alimentar humana os laticínios e seus derivados. 

A atitude extrema é explicada pelo fato de um grupo de pesquisadores estar empenhado em estudar uma alimentação sadia, livre dos lobbies da indústria alimentícia. Os estudos apontam que os laticínios, quase onipresentes na alimentação humana ocidental, podem ser substituídos, com vantagem, por folhas verdes, grãos e oleaginosas de várias espécies, além de outros itens de origem animal, para a absorção de cálcio e de outros nutrientes. 

A descoberta de Harvard já completou uma década. E qual foi a sua repercussão? Praticamente quase nenhuma, do ponto de vista do consumo e da produção de lácteos, que representa uma das maiores fatias no conglomerado da indústria alimentícia mundial.

Em um passado nem tão recente, vozes isoladas já se levantaram, alertando sobre os perigos dos laticínios animais, como o médico Lair Ribeiro e os adeptos das práticas naturistas e da alimentação viva, bradando no deserto da insensatez generalizada de paladares viciados. Não deve ser mesmo tarefa fácil nadar contra a correnteza mantida pelo agronegócio, por médicos cooptados – que alardeiam que os laticínios animais são a única fonte de cálcio, além da presença cotidiana e massiva das propagandas televisivas em nossas vidas, associando laticínios com saúde, prazer e afeto. 

Além do que já foi dito, é preciso considerar o aspecto ambiental. “Não há dieta mais devastadora para o planeta do que a dieta onívora galactônoma”, diz Sônia Felipe, pesquisadora e autora de Galactolatria – mau deleite, livro que expõe em minúcias a devastação ambiental provocada pela produção industrial de leite e derivados, muito mais comprometedora que a indústria da carne bovina para o meio ambiente. Baseado em pesquisas de renomadas instituições internacionais (já que no Brasil são poucos os estudos consistentes na área), a autora aborda ainda a crueldade imposta aos animais em confinamento, inclusive com a adoção de uma dieta anti-natural para a sua natureza e espécie. Bois e vacas, desde que existem sobre a face da terra, nunca comeram milho, soja e bagaço de cana. Sua dieta natural é à base de forragens e capim. 

“Quem tem mama, ovário ou próstata, e não quer ter câncer, retire o alimento que provoca isso das suas vidas”, brada Kátia Haranaka, explicando que a caseína, proteína do leite, é um fator inflamatório. A sua retirada da dieta implica em melhora nos quadros de rinite, sinusite, colite e pneumonia. Os quadros inflamatórios têm origem nessa proteína. Também presente no leite há o hormônio ‘estrona’, que é o fator cancerígeno (mama, ovário, próstata). Estrona é um hormônio feminino que a vaca tem; e tudo que está na vaca passa para o leite, é a lei, evidencia a médica. A presença do hormônio ‘estrona’ é fator de desenvolvimento de mamas em meninos e também da síndrome do pênis pequeno, que hoje abrange um número relevante de cirurgias plásticas, para reconstrução e aumento. 

No consumo de queijos e outros laticínios, o agravante é que os elementos nocivos – estrona e caseína – estão concentrados. Para fazer um quilo de queijo branco são gastos 10 litros de leite de vaca; para fazer um quilo de mussarela, são 25 litros de leite. Ao ingerir queijos, a pessoa está consumindo doses grandes e concentradas de caseína e estrona.

“Se não tivermos a decisão de parar, de verdade, com o que já sabemos que nos faz mal, o caminho é adoecer e ir para o hospital”, pondera Haranaka recordando que os ‘alimentos de Deus’ não viciam e não pedem para você aumentar a dose compulsivamente. Os produtos que fazem mal são viciantes. 

Não é segredo para ninguém minimamente informado que as doenças degenerativas, a obesidade e o sobrepeso, a demência e os transtornos aumentaram no mundo. Doenças que proliferam juntamente com as mudanças alimentares adotadas pelos humanos há algumas décadas. Kátia Haranaka atribui o crescimento dos casos de demência, transtornos, autismo ao hormônio chamado somatotropina bovina recombinante, lançado no mercado em 1988, que fez a vaca saltar de três a nove litros de leite por dia para 30, 90 e até 120 litros diários. Foi essa a razão de Harvard ter excluído os laticínios da pirâmide alimentar. “O médico ou nutricionista que diz que ‘leite é bom’, não estuda, adverte. 

Chegamos ao ponto da ética e da escolha. A grande mídia, com suas propagandas sedutoras, tenta nos convencer de que é possível conciliar um paladar viciado e desregrado com saúde e equilíbrio ambiental. Mas ao tomar conhecimento de certas comprovações científicas que já não deixam margem para dúvidas quanto aos seus veredictos, deparamo-nos com a encruzilhada entre escolher o que faz bem para a nossa saúde e a do planeta e o que é maléfico para ambos. A natureza sempre cobra sua conta, quando é agredida ou afrontada.

A desculpa do ‘eu não sabia’ ficou relegada aos idos do século 20, antes da avalanche informativa tecnológica digital comandar nossas vidas em praticamente todos os aspectos. Ninguém precisa mais de um computador para acessar informações de qualquer tema, produzidas em qualquer parte do mundo. Elas estão na palma, ao clique de um celular. Mas essa facilidade traz consigo dois tipos de fontes: as verdadeiras, científicas, e as fake news. Há que se escolher o alimento que vamos ingerir, bem como as informações que vão nos orientar. 

 

P.S.: ‘Comidas afetivas’ são um tema complexo. E os queijos e laticínios fazem parte de nossa formação – brasileiros, mineiros. Para quem não quer abrir mão dos laticínios, mas quer abdicar desses produtos de origem animal, há no Brasil uma oferta de cursos, receitas e também produtores, inclusive pela internet. É possível fazer em casa, sem alto custo, leites e queijos 100% vegetais, sem hormônios, antibióticos e aditivos químicos. E, junto com a promoção da saúde, descobrir novos aromas e sabores. 

 

Referências:

FELIPE, Sônia. Galactolatria – mau deleite. Ecoânima, 2ª edição revista. São José/SC, 2016.

HARANAKA, Kátia. Sem laticínios, sem glúten, sem álcool para viver 120 anos. Canal Leda Nagle, youtube, em 8 de dezembro de 2021. Acesso em janeiro 2022. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=Y7vxg0iePPs

Universidade de Harvard retira leite e lacticínios da pirâmide alimentar,  site Jusbrasil, reprodução de notícia veiculada pela Agência de Notícias de Direitos Animais – ANDA. Acesso em janeiro 2022. Disponível em: 

https://anda.jusbrasil.com.br/noticias/166356972/universidade-de-harvard-retira-leite-e-lacticinios-da-piramide-alimentar

 

Débora Fajardo: Jornalista, mestra em Comunicação, autora do livro Doença Celíaca/SGNC – Informações ocultas & Fatores Econômicos

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