Doenças crônicas e trabalho

Quem convive diariamente com alguma doença crônica sabe da necessidade de buscar forças  onde não tem, para acordar com energia, disposição e conseguir realizar as atividades rotineiras, tais como estudar e trabalhar. 

O que para a grande maioria das pessoas é algo simples e que faz parte do dia a dia, para uma parcela da população (45% dos brasileiros, de acordo com estudo do IBGE-2013) é ter que lidar com os medos e inseguranças que as enfermidades crônicas trazem, além de todo o estigma carregado. 

Você sabe o que são doenças crônicas? São patologias geralmente de lenta evolução e que se prolongam por muito tempo (meses, anos e, na sua maioria, pela vida inteira), que necessitam de acompanhamento, cuidados  e constante monitoramento. São doenças que no geral não têm cura, mas períodos de crises e de remissão – algumas com suas particularidades, como a doença celíaca, necessitando da exclusão do glúten e controle da contaminação cruzada. E o que causa a doença crônica? Não existe um único fator responsável pelo desenvolvimento da enfermidade, mas um conjunto de fatores aliados a hábitos considerados pouco ou nada saudáveis (tabagismo, sedentarismo, consumo excessivo de álcool, alimentação desequilibrada, excesso de estresse…), além da predisposição genética, como no caso das autoimunes. 

Mas e o ambiente de trabalho, será que está preparado para receber pessoas com essas condições crônicas? 

O local de trabalho deveria ser um espaço de acolhimento para o funcionário nessa condição, o que normalmente não acontece, pois o prestador acometido do problema tende a faltar mais ao trabalho, muitas vezes fica mais indisposto e menos produtivo e com dificuldade de concentração (algumas vezes devido ao uso de remédios), torna-se mais introspectivo, pela dificuldade de lidar com a questão e o receio da aceitação dos demais colegas. Usualmente, precisa seguir alguma alimentação mais restritiva – o que limita o momento de socializar com os companheiros de trabalho. Por esses fatores, acaba sendo visto com uma certa ressalva. 

Muitas pessoas, ao serem contratadas, evitam falar que têm alguma doença crônica, pelo receio de sofrerem preconceito dos colegas ou serem prejudicadas de alguma maneira no ambiente de trabalho. Mas será que ao ser contratado, você precisa informar ao empregador que possui alguma doença crônica? Não, não precisa, pois o direito à privacidade está assegurado na Constituição Federal, entretanto, cabe a você decidir se se sentirá confortável e seguro falando a respeito ou não.

Além de todos os prejuízos pessoais, as doenças crônicas sobrecarregam o sistema de saúde. No Brasil e no mundo, as doenças crônicas são uns dos maiores problemas de saúde pública, por serem enfermidades que perduram bastante e pela maior necessidade de uso do sistema com internações, exames e tratamentos.

Você, provavelmente, conhece alguém que tem alguma doença crônica (diabetes, depressão, câncer, doenças cardiovasculares, asma, obesidade, doenças autoimunes…) ou até mesmo sofre com essa enfermidade diariamente e sabe quão necessária é a inclusão no ambiente familiar, social e profissional.

A doença crônica pode vir a ser aquela companheira indesejável de uma vida toda, portanto, é importante aprender a lidar da melhor formar possível e conviver com ela, conhecendo-a e entendendo os gatilhos que disparam as crises. Mudanças de hábitos se fazem necessárias: adotar uma alimentação balanceada, sem excessos, evitar consumo de álcool e cigarro, praticar exercício físico e buscar atividades que deem prazer, que tragam mais tranquilidade e equilíbrio. Na maioria das vezes, o acompanhamento psicológico também é importante para ajudar a respeitar o seu tempo, seu processo, a lidar melhor com a dor, a evitar os autojulgamentos e cobranças, a não se afastar das pessoas, não se isolar e não se distanciar do convívio social, o que traria mais prejuízos físicos, psicológicos e emocionais. 

Menos julgamentos e mais aceitação; menos desconhecimento e mais informação; mais respeito e inclusão – sobretudo, no espaço de trabalho. 

 

Karina Ferreira é celíaca, recifense, turismóloga formada pela Universidade Católica de Pernambuco, bacharelanda em Letras pela Estácio, com especialização em tradução da língua inglesa pela Fafire, trabalha atualmente como revisora textual, redatora e tradutora de espanhol.

 

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